segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Citação da semana (mais ou menos):

Jesus voltou a falar-lhes em parábolas e disse: “O reino dos Céus é semelhante a um rei que celebrou as núpcias do seu filho. Enviou os seus servos para chamar os convidados para as núpcias, mas estes não quiseram vir. Tornou a enviar outros servos, recomendando: ‘Dizei aos convidados: eis que preparei o meu banquete, os meus touros e cevados já foram degolados e tudo está pronto. Vinde às núpcias’. Eles, porém, sem darem a menor atenção, foram-se, um para o seu campo, outro para o seu negócio, e os restantes, agarrando os servos, maltrataram-nos e mataram-nos. Diante disto, o rei ficou com muita raiva e, mandando as suas tropas, destruiu aqueles homicidas e incendiou-lhes a cidade. Em seguida, disse aos servos: ‘As núpcias estão prontas, mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, às encruzilhadas e convidai para as núpcias todos os que encontrardes’. E esses servos, saindo pelos caminhos, reuniram todos os que encontraram, maus e bons, de modo que a sala nupcial ficou cheia de convivas. Quando o rei entrou para examinar os convivas, viu ali um homem sem a veste nupcial e disse-lhe: ‘Amigo, como entraste aqui sem a veste nupcial?’ Ele, porém, ficou calado. Então disse o rei aos que serviam: ‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o fora, nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes’. Com efeito, muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. (Mt 22, 1-14)

Existem muitas passagens da Bíblia que se referem ao Reino dos Céus. Escolhi esta, que considero muito expressiva e simbólica, para começar esta espécie de rubrica, acrescentando no blog um espaço semanal (aproximadamente…) de reflexão sobre uma passagem. Começo, precisamente, pelo fulcro da mensagem bíblica: o Reino dos Céus.
O género parabólico é amplamente utilizado na Bíblia. Jesus fala aos discípulos quase sempre através de parábolas ou usando linguagem parabólica.
Isto permite-nos a busca de significados vários, adequando e interpretando a mensagem, na procura da forma de melhor fazer entender a mensagem contida. Não significa, porém, que seja lícito interpretar a bel-prazer o que é colocado na boca de Jesus. A interpretação das parábolas, como da Bíblia em geral, está sujeita ao contexto e à mensagem e intenção teológica do autor. Dito de outro modo: existe na linguagem parabólica, precisamente por recorrer ao uso de símbolos e metáforas, a possibilidade de buscar sentidos de interpretação, mas não existe a possibilidade de procurar sentidos para além da intenção com que as parábolas foram escritas. O mesmo vale para o texto bíblico no seu todo: a verdadeira baliza é, realmente, aquilo a que chamamos a intenção teológica do autor sagrado – a razão pela qual escreveu este texto e aquilo (mensagem) que pretende transmitir, para uma situação ou contexto concretos.

Esta é uma parábola muito forte. Utiliza termos duros, ao mesmo tempo que fala do banquete celeste: o Céu. Utiliza uma linguagem bastante alegórica, sendo possível antever duas cenas distintas: até ao versículo 10, trata-se da felicidade messiânica. Deus é o rei, o Messias é o filho. O banquete é a felicidade celestial. Os enviados são os profetas e os apóstolos. Os convidados são os judeus, o povo eleito, e por isso mesmo os convidados por excelência, mas que recusam o convite e maltratam os enviados. Os que são chamados nas encruzilhadas e caminhos são os pagãos (em sentido lato, aplicando ao quotidiano, somos cada um de nós).
A partir do v. 11 a cena muda: o banquete é o juízo final. Mateus funde na mesma parábola o banquete eterno e o juízo, onde os convidados devem vestir a veste nupcial. É talvez a cena mais intrigante: Porque expulsa o rei o mendigo, por causa da veste, se foi chamado do caminho?... Existe aqui um paralelo com Ap 19, 8. Aí relata-se a alegria do banquete eterno, na Jerusalém Celeste (= Reino dos Céus), em que os convidados estão vestidos de branco (= pureza). Este conviva não estava com a veste nupcial, o mesmo é dizer, não estava purificado, não era dos justos, não estava ali de coração. Tudo formas de dizer que para o banquete todos são chamados. Mas cada um é livre de aceitar ou não o convite. Uma vez aceite, está implícita uma mudança de vida. Para quem recusa o convite, há trevas exteriores (o mundo fora do banquete), choro e ranger de dentes (desespero; angústia; sofrimento). Importa dizer que as trevas exteriores, o choro e o ranger de dentes são alegorias simbólicas para significar a não aceitação do convite, ou seja, não se está a fazer aqui um rol do que espera aqueles que recusam Deus (como um castigo), mas antes o que existe, do ponto de vista do evangelista, fora da comunhão com Deus. Por outras palavras: na parábola, ninguém é condenado ao infortúnio. O conviva é lançado fora, como consequência da sua impertinência: o convite supunha a veste nupcial (= mudança de vida = “sequela Christi”). Ao não envergar o traje, recusou a pertença ao banquete. Por isso sai, atado de pés e mãos (ou seja, incapaz de se desfazer das coisas que o “atam”). Volta para onde veio (encruzilhada = dúvida; indecisão; angústia. O mundo sem Deus).
Simbologia bonita!
Como sempre, dúvidas e questões para o mail!

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