sábado, 28 de fevereiro de 2009

Citação da semana (a iniciar a Quaresma)

Em seguida, o Espírito impeliu-o para o deserto.E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no.
Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus,dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho
.»” (Mc 1, 12-15)

Estamos no início da Quaresma, o tempo tradicional devotado a preparar a Páscoa. Preparar quer dizer predispor, reflectir, rezar... Quer dizer estar aberto ao mistério de vida, entrega e redenção de Cristo. Parece bonito, e é. Mas na verdade não estamos lá muito predipostos para perceber o significado último e profundo da Páscoa.
Agora temos 40 dias (é isso que quer dizer quaresma) para podermos pensar nisto.
A proposta de hoje é, uma vez mais, de Marcos. Uma citação curta, muito incisiva, própria deste Evangelho e que o caracteriza. Uma nota da antiguidade do texto, feito de citações curtas e muito densas.
O episódio do jejum de Jesus no deserto está resumido a uma frase, apenas com a nota da divindade de Jesus, servido pelos anjos. O que gostaria de explorar é precisamente o convite ao arrependimento. É esta a razão pela qual esta passagem foi escolhida para iniciar o tempo quaresmal. Arrependimento parece uma palavra má. Daquelas que cheira a mofo. Sobretudo porque a maior parte das vezes nem se entende... O Evangelho quer dizer Boa Nova. Boa notícia. E a boa notícia é que o amor de Deus salva. Mas salva de quê? E do quê é que temos de nos arrepender? A resposta mais fácil é: do pecado. Mas a que vou dar é: salva do desencanto. Do não ter rumo. Do não saber o que fazer nem para onde ir. Mas isto não se percebe (ou aceita) num dia. Nem em quarenta. Um caminho sempre a fazer-se, à medida que se caminha. Infelizmente, nem sempre se caminha a direito. E também ninguém está a dizer que é fácil... Ou óbvio.Como sempre, dúvidas esclarecidas no mail.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Citação da semana (finalmente, depois de longa ausência...)

“Dias depois, tendo Jesus voltado a Cafarnaúm, ouviu-se dizer que estava em casa. Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, e anunciava-lhes a Palavra. Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico. Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.»
Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações: «Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?» Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações? Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega no teu catre e anda’? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, Eu te ordeno - disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.» Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»”
(Mc 2, 1 - 12)


O Evangelho de Marcos é marcado por uma forte componente humana de Jesus, pelo menos na primeira parte. Nos primeiros capítulos, Jesus ensina, acolhe, escuta, cura... É disso exemplo esta passagem, uma cura, de um paralítico, uma vez mais marcada pela presença e pela desconfiança das classes governantes judaicas. Esta dialética está também presente em Marcos, como em Mateus e Lucas (os três evangélicos chamados históricos), e faz parte da intenção teológica presente nas fontes comuns a estes três Evangelhos.
A ânsia de chegar até Jesus é grande. Não apenas do paralítico, cujos amigos não se pouparam a esforços. Mas das gentes, que acorriam a Jesus. Acorriam para escutar e serem escutadas, para serem curadas, sobretudo, como aqui se implica, dos pecados. E é isso exactamente que levanta os comentários dos escribas.
O pecado, na sua essência, é o desvio do projecto de Deus. Perdoar os pecados, a esta luz, é trazer os transviados para o caminho certo. Por isso as multidões estão ávidas da Palavra de Jesus. Mas perdoar os pecados é um poder de Deus. E isso escandaliza os doutores da Lei, isto é, os estudiosos, os teólogos da lei judaica. Por isso Jesus ajuda-os a compreender que tipo de poder é o seu: não perdoa os pecados sem ajudar também a que a vida do homem se endireite. Podemos ver aqui, nesta cura do paralítico, um certo paradigma: o perdão dos pecados implica mudança de vida. Se aprendermos a aplicar no quotidiano esta máxima, a vida vai parecer menos difícil... Viver em sociedade implica que nem tudo corra sempre bem. Há distúrbios, desavenças, mal-entendidos, zangas... Mas o perdão, que é a coisa mais bonita que podemos aprender de Jesus, há-de ajudar-nos a mudar o que está menos bem. De parte a parte.