domingo, 5 de abril de 2009

Citação da Semana (Semana Santa)

O Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso, não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido.” (Is 50, 4-7)

O livro de Isaías é dos livros mais emblemáticos dos profetas. Profeta é aquele que fala antes de (ou em vez de). Os livros proféticos são normalmente considerados 18, embora na versão hebraica alguns dos livros que consideramos históricos pertençam aos proféticos e na versão grega dos LXX também não haja correspondência exacta. Na versão actual, estão agrupados os chamados “profetas escritores”, ou seja aqueles que de uma forma ou de outra, deixaram obra escrita, por si ou por outros. A autoria dos livros nem sempre será de quem lhe dá o nome. Este é o caso de Isaías, um livro complexo porque nasceu do conjunto de pelo menos três livros, naturalmente de autores diferentes, agrupados sob o nome e a autoridade de Isaías. Digo pelo menos três porque entre os exegetas discute-se a possibilidade de houver um quarto, que estaria, contudo, dividido e colocado em pontos diferentes, e não seguido como os restantes. Seria aquilo que conhecemos como “Cânticos do Servo de Iawéh”, que são textos muito belos, quer literária quer teologicamente. Do ponto de visto teológico podem interpretar-se como referidos a Cristo. É o caso deste trecho. Este é um dos Cânticos do Servo. E isto é tanto mais interessante quanto tivermos em atenção que o texto foi escrito aproximadamente 700 anos antes de Cristo. Aqui descreve-se o tipo de sofrimento por que passa aquele que leva a Palavra. As dificuldades que enfrenta, enquanto executa a sua missão. Vem para dar alento. E não recua nem desiste do seu trabalho perante as dificuldades.
Começa hoje a Semana Santa, ou Maior, assim chamada pela iportância litúrgica do que celebra. Para os cristãos, celebra o centro do acontecimento salvífico: a paixão (sofrimento), morte e ressurreição de Jesus, o Cristo. E neste trecho, o profeta prefigura os terríveis acontecimentos que se seguiram à entrada de Jesus em Jerusalém. Depois de ser recebido com cânticos e palmas, o sofrimento, a injustiça, a morte.
Cristãos ou não, o desafio que fica é: deixar que a Bíblia interpele. E fazer um caminho de descoberta, pessoal, com ela. E que o sofrimento, a injustiça e a morte de que esta semana fala, não seja um fim em si mesmo, mas sempre perspectivado para algo maior.Como sempre, dúvidas para o mail.

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